30
Maio
2016
Para os mesmos fatos, dois pesos e duas medidas
A Operação Condor na Argentina gera condenações, no Uruguai gera passividade da Justiça
En Montevideo, Daniel Gatti
Na sexta-feira, 27 de maio, enquanto o coronel uruguaio Manuel Cordero escutava em Buenos Aires como a justiça argentina o condenava a 25 anos de prisão por sua participação na Operação Condor, um de seus camaradas. José Gavazzo, que tinha participado nos mesmos sequestros, torturas e desaparecimentos, era liberado em Montevidéu para poder ir ao aniversário de sua neta. Paradoxos da justiça e dos processos políticos entre as duas margens do Rio da Prata.
Às 17 horas da sexta-feira 27 de maio, a sala do Tribunal Oral Federal Número 1, na rua Comodoro Py de Buenos Aires, estava completamente cheia de pessoas que queriam assistir às primeiras sentenças pronunciadas especificamente em relação à operação de coordenação repressiva dos anos 70, entre as ditaduras do Cone Sul, sob a proteção dos Estados Unidos.
Manuel Cordero e os argentinos Miguel Ángel Furci e Santiago Omar Riveros foram os que receberam as penas mais altas: 25 anos de prisão por “associação para delinquir”, “privação ilegítima da liberdade” e torturas.
Outros 12 militares e agentes argentinos receberam de 8 a 20 anos de prisão, entre eles o ditador Reinaldo Bignone.
Todos eles intervieram de diferentes formas nas ações de sequestro, assassinato, torturas, desaparecimentos e, em alguns casos, de deslocamento transfronteiriço de pessoas. Foram julgados durante vários anos por 105 casos, principalmente de estrangeiros exilados na Argentina (45 uruguaios, 22 chilenos, 13 paraguaios, 11 bolivianos), além de 14 militantes argentinos.
A operação Condor teve como eixo a Argentina, e Cordero foi um dos principais operadores das forças repressivas uruguaias em Buenos Aires, fundamentalmente na base clandestina de Automotores Orletti, montada numa antiga oficina mecânica.
Diferentemente de vários de seus camaradas que participaram das mesmas ações, e que foram sentenciados em 2006, o coronel – acusado não só de delitos fora das fronteiras mas de torturas, assassinatos e estupro de mulheres no Uruguai – escapou da justiça durante muitos anos.
Em 2007, conseguiu fugir para o Brasil e foi lá, perto da fronteira com o Uruguai, que foi localizado por Jair Krischke, presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos, com base em Porto Alegre.
Jair, que já havia tido um papel central, décadas atrás, na denúncia do desaparecimento no Brasil de militantes uruguaios, salvando a vida deles, foi também um dos responsáveis das organizações de direitos humanos que pressionaram para que a justiça brasileira extraditasse Cordeiro para a Argentina.
A extradição aconteceu em 2010, depois de uma campanha internacional impulsionada pela Rel-UITA conjuntamente com o MJDH, que contou com milhares de adesões, entre eles os escritores Eduardo Galeano e Juan Gelman.
No dia da sentença em Buenos Aires contra Cordero e os 14 militares e agentes argentinos, José Gavazzo, um dos chefes da parte uruguaia da operação, preparava-se para ir ao aniversário de 15 anos de sua neta no glamoroso Clube Naval de Montevidéu.
Acontece que o coronel, da mesma forma que Ernesto Ramas, outro dos poucos militares e civis condenados no Uruguai por delitos relacionados com o terrorismo de Estado, goza de prisão domiciliar desde o final de 2015.
O mesmo juiz que o enviou para sua casa, por considerar que o genocida estava em péssimas condições de saúde, considerou que desta vez se encontrava em um estado de saúde suficientemente bom para se ausentar por 12 horas, entre as 6 da tarde da sexta-feira e as seis da manhã do sábado para participar de uma festa dançante.
Finalmente, não foi à festa. Um grupo de militantes organizou um “escrache” na porta de sua casa, com cartazes e faixas, aguando a festa do militar que mantém um eterno sorriso. “Por razões de segurança”, Gavazzo desistiu de ir ao aniversário da sua neta.
Uma vez mais o movimento social supriu no Uruguai as carências ou omissões dos poderes políticos, e Gavazzo pelo menos, sentiu a condenação da sociedade.
Manuel Cordero e os argentinos Miguel Ángel Furci e Santiago Omar Riveros foram os que receberam as penas mais altas: 25 anos de prisão por “associação para delinquir”, “privação ilegítima da liberdade” e torturas.
Outros 12 militares e agentes argentinos receberam de 8 a 20 anos de prisão, entre eles o ditador Reinaldo Bignone.
Todos eles intervieram de diferentes formas nas ações de sequestro, assassinato, torturas, desaparecimentos e, em alguns casos, de deslocamento transfronteiriço de pessoas. Foram julgados durante vários anos por 105 casos, principalmente de estrangeiros exilados na Argentina (45 uruguaios, 22 chilenos, 13 paraguaios, 11 bolivianos), além de 14 militantes argentinos.
A operação Condor teve como eixo a Argentina, e Cordero foi um dos principais operadores das forças repressivas uruguaias em Buenos Aires, fundamentalmente na base clandestina de Automotores Orletti, montada numa antiga oficina mecânica.
Diferentemente de vários de seus camaradas que participaram das mesmas ações, e que foram sentenciados em 2006, o coronel – acusado não só de delitos fora das fronteiras mas de torturas, assassinatos e estupro de mulheres no Uruguai – escapou da justiça durante muitos anos.
Em 2007, conseguiu fugir para o Brasil e foi lá, perto da fronteira com o Uruguai, que foi localizado por Jair Krischke, presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos, com base em Porto Alegre.
Jair, que já havia tido um papel central, décadas atrás, na denúncia do desaparecimento no Brasil de militantes uruguaios, salvando a vida deles, foi também um dos responsáveis das organizações de direitos humanos que pressionaram para que a justiça brasileira extraditasse Cordeiro para a Argentina.
A extradição aconteceu em 2010, depois de uma campanha internacional impulsionada pela Rel-UITA conjuntamente com o MJDH, que contou com milhares de adesões, entre eles os escritores Eduardo Galeano e Juan Gelman.
No dia da sentença em Buenos Aires contra Cordero e os 14 militares e agentes argentinos, José Gavazzo, um dos chefes da parte uruguaia da operação, preparava-se para ir ao aniversário de 15 anos de sua neta no glamoroso Clube Naval de Montevidéu.
Acontece que o coronel, da mesma forma que Ernesto Ramas, outro dos poucos militares e civis condenados no Uruguai por delitos relacionados com o terrorismo de Estado, goza de prisão domiciliar desde o final de 2015.
O mesmo juiz que o enviou para sua casa, por considerar que o genocida estava em péssimas condições de saúde, considerou que desta vez se encontrava em um estado de saúde suficientemente bom para se ausentar por 12 horas, entre as 6 da tarde da sexta-feira e as seis da manhã do sábado para participar de uma festa dançante.
Finalmente, não foi à festa. Um grupo de militantes organizou um “escrache” na porta de sua casa, com cartazes e faixas, aguando a festa do militar que mantém um eterno sorriso. “Por razões de segurança”, Gavazzo desistiu de ir ao aniversário da sua neta.
Uma vez mais o movimento social supriu no Uruguai as carências ou omissões dos poderes políticos, e Gavazzo pelo menos, sentiu a condenação da sociedade.
Fotos: Lucía Iglesias
Tradução Luciana Gaffrée