11
Janeiro
2016
O modelo da soja no dia-a-dia
En Montevideo, Daniel Gatti
Foto: ssq.com.uy
O que está acontecendo atualmente na região de Salinas, no departamento uruguaio de Canelones, é bem representativo do que acontece dia a dia nas regiões habitadas atualmente apelidadas de “a república da soja do Mercosul”.
A história, revelada na segunda-feira 11 pelo jornal uruguaio La diaria, coloca em um mesmo cenário os vizinhos, os cientistas, as autoridades do governo, os grandes produtores, os produtores familiares, cada qual – com exceção dos cientistas, que mudam de lugar de acordo com seu nível de consciência e seus vínculos – ocupando o lugar que habitualmente lhes corresponde dentro desses conflitos.
Segundo relata o jornal, nesta quinta-feira 7, os habitantes de Salinas – um pequeno balneário perto do Rio da Prata – começaram a sentir repentinamente ardência na garganta e dores de cabeça, além de sentirem um “cheiro estranho”, conforme testemunharam.
A seguir, surgiram problemas respiratórios, de visão e erupções cutâneas.
Não se surpreenderam, porque já era a quarta vez que isso lhes acontecia, desde que, em 2012, a região foi coberta pelo característico tapete verde da oleaginosa que enriqueceu alguns, vitimando outros.
Uma vez o cheiro e os efeitos eram tão intensos que os habitantes tiveram que “evacuar o bairro”, segundo Juan Chiarino, um dos vizinhos afetados.
Na semana passada, viram um homem pulverizando com um aparelho de múltiplas partes os 300 hectares de plantação de soja de um estancieiro, na região de Laguna do Cisne, em Salinas. Foram encontradas umas latas com Roundup, o agrotóxico com base de glifosato fabricado pela transnacional Monsanto e que é empregado no tratamento da soja.
Na Laguna do Cisne, a empresa estatal de águas do Uruguai, OSE, tem uma planta potabilizadora que abastece 170 mil pessoas de todo o departamento de Canelores, o mais populoso do país, depois de Montevidéu, e um dos de maior atividade agrícola.
Os vizinhos viram uns peões deste mesmo estancieiro lavar os aparelhos de pulverização nas águas da lagoa e já tinham localizado latas de Roundup vazias na região. Tiraram fotos e enviaram ao Ministério de Saúde Pública, mas sem resultados.
Neste domingo, 10 de janeiro, conseguiram pela primeira vez, desde que estes problemas estão sendo denunciados, quase o mesmo tempo em que a soja desembarcou em Salinas, há três anos e tanto, que a OSE aceitasse recolher amostras da água da lagoa para detectar a presença do glifosato.
Segundo relata o jornal, nesta quinta-feira 7, os habitantes de Salinas – um pequeno balneário perto do Rio da Prata – começaram a sentir repentinamente ardência na garganta e dores de cabeça, além de sentirem um “cheiro estranho”, conforme testemunharam.
A seguir, surgiram problemas respiratórios, de visão e erupções cutâneas.
Não se surpreenderam, porque já era a quarta vez que isso lhes acontecia, desde que, em 2012, a região foi coberta pelo característico tapete verde da oleaginosa que enriqueceu alguns, vitimando outros.
Uma vez o cheiro e os efeitos eram tão intensos que os habitantes tiveram que “evacuar o bairro”, segundo Juan Chiarino, um dos vizinhos afetados.
Na semana passada, viram um homem pulverizando com um aparelho de múltiplas partes os 300 hectares de plantação de soja de um estancieiro, na região de Laguna do Cisne, em Salinas. Foram encontradas umas latas com Roundup, o agrotóxico com base de glifosato fabricado pela transnacional Monsanto e que é empregado no tratamento da soja.
Na Laguna do Cisne, a empresa estatal de águas do Uruguai, OSE, tem uma planta potabilizadora que abastece 170 mil pessoas de todo o departamento de Canelores, o mais populoso do país, depois de Montevidéu, e um dos de maior atividade agrícola.
Os vizinhos viram uns peões deste mesmo estancieiro lavar os aparelhos de pulverização nas águas da lagoa e já tinham localizado latas de Roundup vazias na região. Tiraram fotos e enviaram ao Ministério de Saúde Pública, mas sem resultados.
Neste domingo, 10 de janeiro, conseguiram pela primeira vez, desde que estes problemas estão sendo denunciados, quase o mesmo tempo em que a soja desembarcou em Salinas, há três anos e tanto, que a OSE aceitasse recolher amostras da água da lagoa para detectar a presença do glifosato.
A via-crúcis do pulverizado
Solidão e omissão estatal
Para que eles, os pulverizados, possam saber se têm em seus corpos rastros deste produto, qualificado de cancerígeno pela Organização Mundial da Saúde em 2015, o périplo é tão longo e complicado que em geral desistem.
Devem ir a La Plata, na Argentina, onde existe o laboratório mais próximo capaz de fazer estes exames, e depois reconhecer em tabelião os resultados das suas amostras de sangue.
“Um vizinho da lagoa, que vive em sua chácara, não está em condições de fazer essa viagem”, disse para La diaria Carol Aviaga, uma enfermeira residente na região e que também é senadora do oposicionista Partido Nacional.
Em outubro passado, quando foi feita a pulverização anterior, os vizinhos, que apresentavam sintomas similares aos de hoje, se dirigiram à policlínica mais próxima.
Os médicos não sabiam como tratá-los, e lhes receitaram um simples analgésico. Os vizinhos, por outro lado, também não sabem onde fazer as denúncias e são poucas as autoridades que os auxiliam.
Mabel Burguer, professora doutora em Toxicologia da Faculdade de Medicina da Universidade da República e ex-diretora do Centro de Informação e Assessoramento Toxicológico, sabe que se alguém quiser investigar, controlar e punir, poderá fazê-lo, mas não é isto o que ela, até agora, tem visto na maioria das vezes.
A Prof. Dra. também sabe que os agrotóxicos são os responsáveis pelos problemas sofridos pelos vizinhos, já viu casos similares em outras partes do país e conhece os estudos realizados na Argentina sobre os (terríveis) efeitos do glifosato nos seres humanos.
O prefeito de Canelones, Yamandú Orsi, sabe que os culpados pelas pulverizações não são os produtores familiares da região, mas os grandes produtores.
Assim tuitou Aviaga em uma troca de mensagens mantida durante estes dias.
Mas, poucos foram os estancieiros punidos. O responsável pelas pulverizações de quinta-feira já tinha sido denunciado seis vezes pelos vizinhos, sem que o Ministério da Agricultura tomasse qualquer medida contra ele.
Em alguns casos, as punições recaem nas empresas de pulverização, não em quem as contratou, e isso porque pulverizaram numa distancia menor que 300 metros dos centros populacionais, limite fixado para a pulverização de agrotóxicos, e não pelas consequências sofridas pelos habitantes.
Conforme relatos de Chiarino, nas audiências os advogados das empresas e dos estancieiros recorrem sempre aos seguintes argumentos: que as proibições de pulverizar as regiões habitadas são inconstitucionais e incongruentes com “um pedido do governo que promove o modelo produtivo das grandes plantações de soja”.
Quanto a isto, evidentemente, eles têm razão.
Devem ir a La Plata, na Argentina, onde existe o laboratório mais próximo capaz de fazer estes exames, e depois reconhecer em tabelião os resultados das suas amostras de sangue.
“Um vizinho da lagoa, que vive em sua chácara, não está em condições de fazer essa viagem”, disse para La diaria Carol Aviaga, uma enfermeira residente na região e que também é senadora do oposicionista Partido Nacional.
Em outubro passado, quando foi feita a pulverização anterior, os vizinhos, que apresentavam sintomas similares aos de hoje, se dirigiram à policlínica mais próxima.
Os médicos não sabiam como tratá-los, e lhes receitaram um simples analgésico. Os vizinhos, por outro lado, também não sabem onde fazer as denúncias e são poucas as autoridades que os auxiliam.
Mabel Burguer, professora doutora em Toxicologia da Faculdade de Medicina da Universidade da República e ex-diretora do Centro de Informação e Assessoramento Toxicológico, sabe que se alguém quiser investigar, controlar e punir, poderá fazê-lo, mas não é isto o que ela, até agora, tem visto na maioria das vezes.
A Prof. Dra. também sabe que os agrotóxicos são os responsáveis pelos problemas sofridos pelos vizinhos, já viu casos similares em outras partes do país e conhece os estudos realizados na Argentina sobre os (terríveis) efeitos do glifosato nos seres humanos.
O prefeito de Canelones, Yamandú Orsi, sabe que os culpados pelas pulverizações não são os produtores familiares da região, mas os grandes produtores.
Assim tuitou Aviaga em uma troca de mensagens mantida durante estes dias.
Mas, poucos foram os estancieiros punidos. O responsável pelas pulverizações de quinta-feira já tinha sido denunciado seis vezes pelos vizinhos, sem que o Ministério da Agricultura tomasse qualquer medida contra ele.
Em alguns casos, as punições recaem nas empresas de pulverização, não em quem as contratou, e isso porque pulverizaram numa distancia menor que 300 metros dos centros populacionais, limite fixado para a pulverização de agrotóxicos, e não pelas consequências sofridas pelos habitantes.
Conforme relatos de Chiarino, nas audiências os advogados das empresas e dos estancieiros recorrem sempre aos seguintes argumentos: que as proibições de pulverizar as regiões habitadas são inconstitucionais e incongruentes com “um pedido do governo que promove o modelo produtivo das grandes plantações de soja”.
Quanto a isto, evidentemente, eles têm razão.