29
Junho
2016
A muamba paraguaia com cheiro de cigarro
Andrés Alsina - Brecha
Fotos: Gerardo Iglesias
A indústria paraguaia de tabaco se multiplicou por 26 na primeira década deste século. O país fuma 3 por cento menos do que produz. O restante vira contrabando. O presidente Horácio Cartes já não é o CEO da principal indústria de tabaco, mas sim um acionista relevante do negócio familiar, dirigido hoje por sua irmã.
Dos 110 pesos uruguaios (11,7 reais) que vale um maço de cigarro no Uruguai, 72,06 são impostos; arredondando, são dos terços do preço.
O aumento do preço da venda legal é um dos três instrumentos aplicados para dissuadir a população de consumir tabaco
Os outros são a legislação estabelecida há uma década com uma sucessão de decretos e leis que proíbem fumar em lugares públicos, e a publicidade mostrando os efeitos negativos do fumo, presente obrigatoriamente nos maços de cigarros.
Feito isto, o que resta é continuar aumentando o preço de venda, mas os resultados são equiparáveis ao de tirar o espinafre do Popeye. Quanto mais aumentarmos o preço do cigarro, mais incentivaremos o seu contrabando.
“A cumplicidade da indústria, o controle da cadeia de abastecimento, a corrupção e a frouxidão da repressão são os fatores decisivos para o aumento do contrabando”, afirma Tobacconomics (http://www.ash.org.uk/files/documents/ASH_774.pdf).
Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), 10 por cento do tabaco consumido no mundo provêm do contrabando, mas no Uruguai essa porcentagem chega a 16 por cento, de acordo com o Ministério de Saúde Pública.
Há dezenas de marcas feitas para o contrabando: Milenio, 51 e Eco seriam as principais que chegam do Paraguai. Também existe a Marlboro que chega do Brasil e da Argentina, e a Nevada falsificada que vem do Brasil.
No Uruguai, esses maços valem de 35 a 50 pesos uruguaios (de 3,7 a 5,3 reais). Isto é, sem considerar os impostos, o preço mínimo do cigarro de contrabando é o mesmo ou maior que o do cigarro legal.
Em escala mundial, o Paraguai tem 11 por cento do mercado de cigarros de contrabando, segundo o instituto uruguaio Centro de Investigação para a Epidemia do Tabagismo. O Paraguai chegou a este patamar, destaca Foreign Affairs (5-11-16) graças a “uma corrupção penetrante e ao crime organizado”.
Em 2012, o Paraguai produziu 65 bilhões de cigarros,(http://www.tobaccotactics.org/index.php/International_Tax_and_Investment_Center), consumindo menos de 3 por cento dessa quantidade.
A rota do contrabando é por meio das fronteiras porosas da Argentina, da Bolívia e do Brasil, em direção ao Uruguai e a lugares do Caribe, dos Estados Unidos e do México.
“As exportações do tabaco são, quase sem exceção, ilegais” afirmou Milton Cabral, presidente da filial brasileira da British American Tobacco (BAT), a principal empresa do setor.
No centro da produção paraguaia, com 51 a 58 por cento, estão a empresa Tabesa e sua distribuidora Tabacos do Paraguai. Fazem parte do Grupo Cartes e o seu acionista majoritário é o atual presidente da república, ainda que seja a sua irmã Sarah quem atualmente dirige as empresas.
O fundador do grupo foi o pai de ambos, Ramón T Cartes, “o lorde do tabaco”, como batizado pela imprensa brasileira.
Os Cartes fabricam seis das marcas vendidas como contrabando no México. A venda se vê favorecida, segundo o jornal Excelsior (20-XI-13), porque a pressão impositiva sobre o produto legal é de 70 por cento.
De acordo a uma nota de Ernesto Méndez em The Journal of Political Risk (14-III-15), a ilegalidade permite que nos cigarros, além do tabaco, exista serragem, capim e até matéria fecal, “porque é fibrosa”.
O Grupo Cartes se define a si mesmo, em sua página web, como “uma família de empresas dedicadas às famílias paraguaias e ao desenvolvimento do país a partir do trabalho, da paixão e da busca constante pela excelência em tudo o que fazemos”.
O aumento do preço da venda legal é um dos três instrumentos aplicados para dissuadir a população de consumir tabaco
Os outros são a legislação estabelecida há uma década com uma sucessão de decretos e leis que proíbem fumar em lugares públicos, e a publicidade mostrando os efeitos negativos do fumo, presente obrigatoriamente nos maços de cigarros.
Feito isto, o que resta é continuar aumentando o preço de venda, mas os resultados são equiparáveis ao de tirar o espinafre do Popeye. Quanto mais aumentarmos o preço do cigarro, mais incentivaremos o seu contrabando.
“A cumplicidade da indústria, o controle da cadeia de abastecimento, a corrupção e a frouxidão da repressão são os fatores decisivos para o aumento do contrabando”, afirma Tobacconomics (http://www.ash.org.uk/files/documents/ASH_774.pdf).
Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), 10 por cento do tabaco consumido no mundo provêm do contrabando, mas no Uruguai essa porcentagem chega a 16 por cento, de acordo com o Ministério de Saúde Pública.
Há dezenas de marcas feitas para o contrabando: Milenio, 51 e Eco seriam as principais que chegam do Paraguai. Também existe a Marlboro que chega do Brasil e da Argentina, e a Nevada falsificada que vem do Brasil.
No Uruguai, esses maços valem de 35 a 50 pesos uruguaios (de 3,7 a 5,3 reais). Isto é, sem considerar os impostos, o preço mínimo do cigarro de contrabando é o mesmo ou maior que o do cigarro legal.
Em escala mundial, o Paraguai tem 11 por cento do mercado de cigarros de contrabando, segundo o instituto uruguaio Centro de Investigação para a Epidemia do Tabagismo. O Paraguai chegou a este patamar, destaca Foreign Affairs (5-11-16) graças a “uma corrupção penetrante e ao crime organizado”.
Em 2012, o Paraguai produziu 65 bilhões de cigarros,(http://www.tobaccotactics.org/index.php/International_Tax_and_Investment_Center), consumindo menos de 3 por cento dessa quantidade.
A rota do contrabando é por meio das fronteiras porosas da Argentina, da Bolívia e do Brasil, em direção ao Uruguai e a lugares do Caribe, dos Estados Unidos e do México.
“As exportações do tabaco são, quase sem exceção, ilegais” afirmou Milton Cabral, presidente da filial brasileira da British American Tobacco (BAT), a principal empresa do setor.
No centro da produção paraguaia, com 51 a 58 por cento, estão a empresa Tabesa e sua distribuidora Tabacos do Paraguai. Fazem parte do Grupo Cartes e o seu acionista majoritário é o atual presidente da república, ainda que seja a sua irmã Sarah quem atualmente dirige as empresas.
O fundador do grupo foi o pai de ambos, Ramón T Cartes, “o lorde do tabaco”, como batizado pela imprensa brasileira.
Os Cartes fabricam seis das marcas vendidas como contrabando no México. A venda se vê favorecida, segundo o jornal Excelsior (20-XI-13), porque a pressão impositiva sobre o produto legal é de 70 por cento.
De acordo a uma nota de Ernesto Méndez em The Journal of Political Risk (14-III-15), a ilegalidade permite que nos cigarros, além do tabaco, exista serragem, capim e até matéria fecal, “porque é fibrosa”.
O Grupo Cartes se define a si mesmo, em sua página web, como “uma família de empresas dedicadas às famílias paraguaias e ao desenvolvimento do país a partir do trabalho, da paixão e da busca constante pela excelência em tudo o que fazemos”.
Sendo muambeiros deles mesmos
As empresas e seus negócios
A excelência é também uma característica particular da facilidade como se move o negócio do contrabando.
O Paraguai é, por exemplo, o principal fornecedor de cigarros contrabandeados para o Brasil com seu enorme mercado, de acordo com o artigo de Hana Roos em Tobacconomics.
As rotas e estruturas do contrabando foram tomadas das grandes empresas de tabaco internacionais (Aol, 31-X-13). “Abundam evidências de que as transnacionais do setor do tabaco foram cúmplices do contrabando de seus próprios produtos”, afirma.
Sobre isto, Foreign Affairs cita o atual executivo da Tabesa, José Ortiz: “Só preenchemos o espaço deixado pela Bat e pela Philip Morris”.
Ao que tudo indica, o caminho era, por meio de suas subsidiárias, exportar os cigarros para o Paraguai, para então serem contrabandeados e, portanto, vendidos sem impostos.
Nos dez anos da primeira década deste século, a indústria do tabaco paraguaia cresceu 2.592 por cento.
Esta cifra, que a Foreign Affairs considera ser exata, revela a falta de informações oficiais sobre a indústria do tabaco. Sabe-se sim, que há mais de 2.600 marcas de cigarro registradas no Paraguai, e que os locais de produção no país são cerca de 30.
O Paraguai não está sozinho no negócio do contrabando.
As Farc e Los Urabeños (uma organização paramilitar colombiana), junto com os cartéis mexicanos Los Zetas e Sinaloa (conforme informa a Abc News de 22 de abril de 2013), lavam dinheiro por meio do contrabando de cigarros; no Brasil estão no negócio ao menos duas facções criminosas: o Primeiro Comando da Capital, e a maior facção criminosa do país, dedicada principalmente ao narcotráfico: o Comando Vermelho.
Os lucros provenientes do contrabando de cigarro oscilam de 179 a 231 por cento, margem que supera em muito a de outros bens de contrabando, como os produtos eletrônicos e vestuário.
O formidável crescimento da indústria do tabaco paraguaia tem entre suas causas, explica Foreign Affairs, que a repressão ao contrabando neste setor não é um objetivo primordial do governo.
“De fato, fazem vista grossa completamente”, em lugar de perseguir o contrabando de armas e de outras drogas.
Paraguai é o segundo produtor de maconha do continente, depois do México.
Benoit Gomis e Natalia Botero informaram ao Word Politics Review que, em 2008, o Paraguai produziu 600 toneladas métricas de maconha, 15 por cento do total mundial, uma informação que é um grande feito.
O governo de Cartes obstaculizou de modo cortante o jornalismo investigativo e já não há investigação alguma sobre a indústria local do cigarro.
“Que cortem as mãos dos oficiais corruptos”, havia dito em maio o presidente paraguaio, auto definindo-se como “chefe da luta contra a corrupção”, mas os resultados foram escassos.
Um dos motivos: em seu país há somente um juiz que atende casos de contrabando.
Andrés Alsina
Publicado no jornal uruguaio Brecha (Convênio com Rel-UITA)
Publicado no jornal uruguaio Brecha (Convênio com Rel-UITA)
Tradução de Luciana Gaffrée