28
Julho
2016
Brasil | Sindicatos | HRCT

Vai-se delineando o mapa do padecimento das camareiras no Brasil

Mais entrevistas demonstram penosas condições de trabalho

En Brasilia, Gerardo Iglesias
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Moacyr Roberto Tesch

Durante o desenrolar da campanha mundial pela dignificação das camareiras no Brasil, a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Turismo e Hospitalidade (Contratuh) entregou centenas de entrevistas realizadas junto às camareiras em vários estados do país. A Rel conversou com Moacy Tesch, presidente da Contratuh.
- Quando começaram as entrevistas?
- Há aproximadamente um mês. 

Ao regressarmos da reunião do Comitê Mundial HRCT da UITA, em Genebra, encaminhamos os formulários aos sindicatos nacionais da Confederação para que se encarregassem de recolher os dados solicitados pela campanha da UITA e obtivessem uma amostragem significativa que projetasse a realidade das camareiras do Brasil.

- Há cerca de um ano, a Contratuh e a Rel-UITA realizaram o lançamento da Campanha pela Dignificação do Trabalho das Camareiras.
- Sim, primeiramente foi feito no Congresso da Confederação em novembro, posteriormente continuamos com este compromisso coletivo em São Luís do Maranhão. 

Atualmente, estamos trabalhando este tema em Fortaleza (BA), onde existe uma grande resistência, por parte dos empresários, em implementar boas práticas de trabalho e melhorar as condições das camareiras.

Conseguimos impor em alguma convenção coletiva itens referentes às condições de trabalho, mas será uma tarefa árdua, mas não impossível.

Trabalho extenuante
Nenhuma valorização do serviço

- Quais são os principais problemas que as camareiras no Brasil enfrentam, segundo estes dados preliminares que estão chegando?
-Entre as coisas mais preocupantes, está o número elevado de apartamentos para elas limparem diariamente, e os objetos pesados que precisam carregar, gerando uma série de doenças osteomusculares. 

Quando os hóspedes caminham pelos corredores dos hotéis, não imaginam o quanto pesam os carrinhos que elas empurram, andando com eles de cima pra baixo, todo o dia.

Outro grande problema é o desprezo e a invisibilidade com que são tratadas.

- No Brasil há também o fenômeno da terceirização dos serviços de limpeza, tão presente na Espanha, por exemplo?
- Sim, a terceirização aqui ocorre por meio das malfadadas cooperativas de trabalho, as “coopergatos”, que são de verdade uma grande fraude ao trabalho.

Quando descobrimos estas pseudocooperativas, realizamos denúncias ao Ministério do Trabalho e ao Ministério Público. Este último tem sido um forte e efetivo aliado contra este tipo de embuste.

Por outro lado, há mais de um ano, aproximadamente, que eles estão tratando, por meio de um projeto de lei, de espalhar a terceirização por todos os setores da produção, algo que viria a ser como legalizar a precarização do trabalho. 

Nós do movimento sindical e os nossos representantes no Senado realizamos uma grande mobilização para frear a implementação dessa lei. Conseguimos pará-la, mas o novo governo interino colocou novamente em sua agenda este projeto de reforma trabalhista como prioridade, com ênfase nas terceirizações.

- Como vocês veem o futuro dessa batalha?
-O contexto apresentado é pouco alentador: um setor empresarial fortalecido, um movimento sindical indeciso e dividido, e um governo marcadamente de direita, que aplica políticas de cortes que recaem diretamente na classe trabalhadora.

Por essa razão é que queremos começar a denunciar, em todos os níveis internacionais a situação que estamos vivendo.

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 Gerardo Iglesias y Moacyr Roberto Tesch | Fotos: Gerardo Iglesias

 

Tradução Luciana Gaffrée