22
Setembro
2015
Brasil | Sindicatos | MC DONALD'S

A McReserva

En Montevideo, Daniel Gatti
20150922-mcdonlads714

Ilustração: Allan McDonald

A McDonald´s está em crise e, para superá-la, apelará cada vez mais para a expansão nos países subdesenvolvidos, em especial os latino-americanos, onde as regulamentações para a sua atividade são menores do que as que vigoram em outras partes do mundo.
Quase que “desde sempre”, a imagem da McDonald´s e o seu ícone, o palhaço Ronald McDonald, estão associados ao “american way of life” e a hegemonia cultural norte-americana no planeta, fundamentalmente após o fim da guerra fria.

Não são poucos os que em seu momento reiteraram que “o triunfo do capitalismo sobre a face da Terra” foi selado com a abertura dos primeiros restaurantes desta cadeia de restaurantes nos países ex-socialistas da Europa do Leste, no começo de 1990: um na Praça Vermelha de Moscou, outro na esquina das ruas Marx e Lenin em Budapeste...

Em 1986, a revista britânica The Economist adotou o Big Mac como base do seu índice comparativo do custo de vida entre os vários países e, desde então, o famoso hambúrguer, oferecido em todos os restaurantes da McDonald´s, passou a ser uma unidade de medida.

Entretanto, nos últimos anos, algo mudou. Essa mudança de hábitos de consumo nos países desenvolvidos, por exemplo, fez com que os ofertantes de comida-lixo, tendo a Arcos Dourados à frente, perdessem terreno.

McConsumismo e McExploração
Acompanhados de consumidores mais ligados
Para muitas pessoas, a McDonald´s passou também a encarnar algumas das facções mais detestáveis do capitalismo e sua modalidade de globalização: hiperconsumo, superexploração do trabalho, despersonalização, subordinação das identidades nacionais, despreocupação com o meio ambiente...

De fato, no primeiro mundo o consumo nos restaurantes da transnacional vem diminuindo ano após ano, fundamentalmente nos EUA, onde estão 40% dos seus 33.990 restaurantes espalhados pelo planeta.

De agosto de 2013 a agosto de 2014, as vendas nos 14.339 restaurantes do grupo nos Estados Unidos caíram 6,1 por cento.

Também diminuíram em outros mercados chave, como a Europa e a Ásia

“Para onde quer que você olhe, o nosso rendimento foi menor que o esperado”, disse Don Thompson, o então diretor da mega empresa, em meados do ano passado, referindo-se aos resultados no primeiro mundo.

Não é que a McDonald´s ganhe pouco dinheiro, valha-me Deus, mas ganha menos do que ganhava antes: no último trimestre de 2014, obteve um lucro de 1,1 bilhão de dólares, uma fortuna, entretanto, 21 por cento menor do que o obtido durante o mesmo período em 2013.

Foi suficiente para que, no final de 2014, Thompson renunciasse, sendo substituído, pela primeira vez na história do grupo, por uma pessoa que não fosse norte-americana, o britânico Steve Easterbrook.

Easterbrook anunciou que irá recompor o “plano de negócios” e a oferta da empresa, visando a reforçá-la nas regiões onde a McDonald´s ainda aparece associada a “certo estilo de vida moderno e atraente” 

A Índia é um desses reservatórios. Outros são os países da Europa do Leste e uma terceira região é a América Latina.

América Latina
5,6 por cento das vendas mundiais da McDonald´s
As vendas da cadeia de restaurantes na América Latina também caíram nos últimos tempos. No terceiro trimestre de 2014, a queda foi de quase 13 por cento, em comparação com o mesmo período em 2013. Aqui, a empresa também deverá modificar a sua oferta.

A Arcos Dorados, empresa argentina responsável pelas franquias latino-americanas da McDonald´s, gerencia cerca de 2 mil restaurantes na região.

Não há nenhuma outra empresa franquia da McDonald´s no mundo com tantos restaurantes, e o colombiano Woods Staton, presidente da Arcos Dourados, pensa em aumentar esse número.

A aposta de Staton é fazer com que a empresa cresça principalmente no Brasil, na Colômbia e um pouco menos na Argentina, um país que não quer deixar de lado, porque “é uma nação de classe média e o público da McDonald´s é principalmente da classe média”. 

O Brasil é hoje o oitavo país em número de restaurantes da McDonald´s abertos em seu território (tem 885 restaurantes). O México é o décimo quinto (399 restaurantes). A Argentina ocupa o vigésimo quarto lugar (221 restaurantes), e a Colômbia o quadragésimo quinto (com 81 restaurantes), conforme estatísticas publicadas este mês pelo jornal espanhol La Vanguardia.

“Estamos presentes em 20 países latino-americanos, e não notamos a tendência a uma redução no consumo, se compararmos com as outras regiões. Pelo contrário, estamos crescendo”, comentou Staton.

A margem de crescimento na região é “muito grande”, acrescentou. Em parte, se deve à baixa quantidade de restaurantes da McDonald´s por habitantes.

Na Argentina há um McDonald´s para cada 189.154 pessoas. Na Venezuela há um para cada 225.192 pessoas. No Brasil para cada 233.565 e no México para cada 310.274 pessoas.

Em 2013, Staton havia dito que a América Latina era a “joia da coroa da McDonald´s no mundo”, sendo esta a região em que a empresa mais investiu nesse ano. Aproximadamente, 280 milhões de dólares.

A região representa mais ou menos 5,6 por cento das vendas mundiais da McDonald´s”, garantiu então o magnata colombiano. 

“É uma porcentagem relativamente pequena porque há países, como os Estados Unidos e alguns da Europa, que são gigantescos. Mas, a tendência é a McDonalds crescer na América Latina”, afirmou. Staton também mencionou a importância das “liberdades” oferecidas aos empresários por alguns dos países latino-americanos.

Os sindicatos brasileiros sabem muito bem em que consistem essas “liberdades”

Condições insalubres de trabalho, horários mais longos que o permitido, descumprimento do pagamento das obrigações sociais, jornadas de trabalho móveis e uma porção de acidentes de trabalho.