03
Novembro
2014

A NR 36 no contexto migratório

Um Sindicato caminhando com as pessoas, seus problemas e sonhos

En Marau, Gerardo Iglesias

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Foto: Gerardo Iglesias

O trabalho do Sindicato dos Trabalhadores da Alimentação de Cascavel e Região (SINTIACRE) do estado do Paraná com os trabalhadores haitianos mostra o caminho por onde há que se transitar para atuar diante das dificuldades e desafios deste novo fluxo migratório que está chegando ao sul do Brasil. Denisse nos fala sobre essa questão, a partir da sua própria prática.

-Desde quando você participa das atividades da CONTAC?
-Desde 2006, desde o momento em que entrei no Sindicato e me uni às atividades da Confederação.

A campanha da que mais me lembro foi a campanha pela aprovação da NR36, até de frango eu me vesti para isto e reparti ovos na Avenida Paulista, como forma de chamar a atenção sobre a problemática vivida pelos trabalhadores dos frigoríficos.

-A NR36 foi finalmente aprovada. Quais estão sendo as medidas tomadas para a sua implementação...
-Vamos até as portas dos frigoríficos para informar sobre os alcances da Norma, o que não é uma tarefa fácil, entre outras coisas, devido ao alto índice de rotatividade do pessoal que trabalha nos frigoríficos, principalmente agora com os migrantes haitianos e senegaleses que estão sendo empregados na região.

-E como é o trabalho com eles?
-Com eles temos que fazer um trabalho minucioso. Muitas vezes começamos falando sobre o que é e o que faz um sindicato, e depois chegamos à Norma e os seus desafios.

Uma coisa que aprendemos neste trabalho é identificar o líder do grupo, pois é com ele que trabalhamos primeiro, informando sobre seus direitos, o sindicato e a Norma.

Não é uma tarefa simples, porque entre outras dificuldades, enfrentamos a escassez de companheiros para realizar este trabalho, porém estamos avançando.

-E como os migrantes recebem essa informação?
-Em um primeiro momento não confiavam em nós, nem no sindicato. Estavam com muito medo, muita desconfiança.

Posteriormente, a situação foi mudando e com uma presença constante, atenciosa e solidária, e com o sindicato de portas abertas, fomos conquistamos essas pessoas.  

Já contamos com 15 migrantes filiados ao sindicato e tudo indica que mais pessoas se unirão porque há vários que estão se aproximando da organização em busca dos convênios médicos com os que contamos.

-Quantos haitianos há na cidade?
-Quando começamos o nosso levantamento, havia 1.500 haitianos. No mês passado o número já chegava a 3.800 só em Cascavel.

Há em atividade, nas empresas onde temos base sindical, aproximadamente 250 trabalhadores haitianos.

-O sindicato conjuntamente com o professor José Renato Vieira Martins da Universidade Federal de Integração Latino-Americana (UNILA), realizou uma excelente pesquisa sobre os haitianos...
-Exatamente. E foi a partir desta pesquisa que muitos migrantes foram adquirindo confiança em nós e facilitando muito o trabalho sindical.

É importante considerar que estas pessoas sofrem muitas vezes uma dupla discriminação: por serem migrantes e por serem negros, então o trabalho que as nossas bases têm feito tem muito que ver com a transmissão de confiança, e em ser solidários.

-Devo entender que o trabalho na porta dos frigoríficos, como vocês dizem, é o ideal?
-Sem dúvida. Sou das que acreditam que não serve de nada fazer parte da direção de um sindicato para estar sentado atrás de uma mesa atendendo ao telefone.

O sindicato não existe se não souber chegar aos trabalhadores e principalmente às trabalhadoras, aqui onde somos a imensa maioria.

Para ser sindicalista, a pessoa tem que levar no sangue. Tem que ir até onde o povo está, interagir com os trabalhadores para divulgar e informar sobre todas as atividades sindicais.

Há quem espera os trabalhadores chegarem com seus problemas, e desta forma os sindicatos terminam como sendo espaços vazios de gente e de ideias.

Nosso sindicato não pensa nem age assim...