26
Julho
2016
25 de julho, Dia da Mulheres Afro-Latino-Americanas e Caribenha e da Diáspora
Discriminadas duplamente
En Montevideo, Violeta Lacayo
Foto: Gerardo Iglesias
Como em todos os anos, desde 1992, em 25 de julho comemora-se o Dia Internacional das Mulheres Afro-Latino-Americanas, Caribenhas e da Diáspora, em reivindicação de seus direitos, a partir de uma perspectiva social, cultural e política.
As mulheres afrodescendentes foram duplamente discriminadas durante a história: por ser mulher e negra.
Durante muito tempo, afirmou-se que todas as mulheres sofrem as desigualdades de um sistema político-social patriarcal fundamentado no androcentrismo.
E o certo é que nas sociedades, tanto ocidentais como orientais, as mulheres nascem, crescem e vivem dentro desta realidade androcêntrica.
As desigualdades por razões de gênero são agravadas ao se transversalizarem com outras formas de dominação, como o racismo, o heterossexismo e o classismo.
´É só percorrer a América Latina e o Caribe para vermos quem são as pessoas que realizam os trabalhos menor remunerados, mais insalubres, repetitivos, menos valorizados. Essas pessoas são, em sua maioria, vítimas do tráfico de seres humanos, com a pior taxa de escolaridade, as últimas a serem consideradas na hora de se construir políticas públicas que lhes dignifiquem.
Ao longo da história da humanidade, as afrodescendentes sofreram formas de dominação que outros grupos de mulheres não experimentaram: foram vítimas do tráfico de pessoas, da exploração nas plantações e nas casas como serviçais.
Durante muito tempo, afirmou-se que todas as mulheres sofrem as desigualdades de um sistema político-social patriarcal fundamentado no androcentrismo.
E o certo é que nas sociedades, tanto ocidentais como orientais, as mulheres nascem, crescem e vivem dentro desta realidade androcêntrica.
As desigualdades por razões de gênero são agravadas ao se transversalizarem com outras formas de dominação, como o racismo, o heterossexismo e o classismo.
´É só percorrer a América Latina e o Caribe para vermos quem são as pessoas que realizam os trabalhos menor remunerados, mais insalubres, repetitivos, menos valorizados. Essas pessoas são, em sua maioria, vítimas do tráfico de seres humanos, com a pior taxa de escolaridade, as últimas a serem consideradas na hora de se construir políticas públicas que lhes dignifiquem.
Ao longo da história da humanidade, as afrodescendentes sofreram formas de dominação que outros grupos de mulheres não experimentaram: foram vítimas do tráfico de pessoas, da exploração nas plantações e nas casas como serviçais.
Presas e torturadas
Condenadas por serem mulheres e negras
A escravidão foi abolida no mundo há muito tempo, mas hoje em dia ainda persistem formas de escravidão para estas mesmas mulheres, mas com outro nome, sem que seja considerado um delito.
Um aspecto que marcou fortemente o destino das mulheres afrodescendentes no continente americano foi o processo de sexualização, erotização e estupro sexual a que foram submetidas por parte dos homens escravagistas.
As escravas eram abusadas sexualmente de forma sistemática e “natural”, o que trouxe como consequência a construção de um imaginário perverso sobre as mulheres negras, consideradas de fácil acesso, e sexualmente disponíveis para todo homem branco, e às vezes também afro.
As mulheres que, por algum meio, obtinham a liberdade eram consideradas mulheres de moral reprovável, libertinas, destinadas ao desfrute, aos prazeres, à luxúria, à perversão, à bestialidade e ao instinto; acrescido a isto, eram acusadas de prostituição.
Estes fatos limitaram as suas possibilidades de inserção social, o pleno desenvolvimento de seus direitos e de sua liberdade, ao mesmo tempo em que condicionaram sua situação social futura, morrendo na maioria dos casos como haviam nascido: presas e torturadas por um sistema que as condenava por serem mulheres e negras.
Hoje, as meninas, adolescentes e mulheres negras continuam sendo as mais afetadas, vulneráveis, discriminadas, excluídas e empobrecidas. Sua situação se caracteriza pela marginalização econômica e pelas limitações para a participação e a liderança, o acesso à educação, aos serviços básicos, ao emprego e à saúde.
Até poucos anos, as mulheres negras estavam invisibilizadas nas estatísticas da região e, portanto, desconhecia-se sua situação real.
Um aspecto que marcou fortemente o destino das mulheres afrodescendentes no continente americano foi o processo de sexualização, erotização e estupro sexual a que foram submetidas por parte dos homens escravagistas.
As escravas eram abusadas sexualmente de forma sistemática e “natural”, o que trouxe como consequência a construção de um imaginário perverso sobre as mulheres negras, consideradas de fácil acesso, e sexualmente disponíveis para todo homem branco, e às vezes também afro.
As mulheres que, por algum meio, obtinham a liberdade eram consideradas mulheres de moral reprovável, libertinas, destinadas ao desfrute, aos prazeres, à luxúria, à perversão, à bestialidade e ao instinto; acrescido a isto, eram acusadas de prostituição.
Estes fatos limitaram as suas possibilidades de inserção social, o pleno desenvolvimento de seus direitos e de sua liberdade, ao mesmo tempo em que condicionaram sua situação social futura, morrendo na maioria dos casos como haviam nascido: presas e torturadas por um sistema que as condenava por serem mulheres e negras.
Hoje, as meninas, adolescentes e mulheres negras continuam sendo as mais afetadas, vulneráveis, discriminadas, excluídas e empobrecidas. Sua situação se caracteriza pela marginalização econômica e pelas limitações para a participação e a liderança, o acesso à educação, aos serviços básicos, ao emprego e à saúde.
Até poucos anos, as mulheres negras estavam invisibilizadas nas estatísticas da região e, portanto, desconhecia-se sua situação real.
Invisíveis, apesar de serem maioria
O paradoxo da marginalização
Nos últimos tempos, os estados democráticos estão levando a cabo pequenas iniciativas para contabilizar a população negra e, na medida do possível, as mulheres negras.
Entretanto, ainda estamos com números negativos se pensarmos no bem-estar de populações que em alguns países paradoxalmente são maioria, e que, mesmo assim, não contam com o mesmo bem-estar das pessoas não negras.
Depois das populações indígenas, são as mulheres negras as que sofrem maior pobreza e indigência: são mais pobres que as mulheres brancas, e que os homens negros.
Mesmo assim, com relação à participação política, não tiveram acesso em igual proporção que o resto da população, aos espaços de poder e de tomada de decisões, estando sub-representadas nos níveis de governo locais, regionais e nacionais.
Isso se deve também a que o sistema de funcionamento interno dos partidos, e a falta de recursos econômicos para formalizar candidaturas eficazes, dificultam a entrada das mulheres negras nos parlamentos da América Latina e do Caribe, em paridade com os homens.
As mulheres negras exigem maiores oportunidades para incidirem na formulação de sua própria agenda, e na criação e implementação de políticas públicas que incorporem a inclusão da dimensão étnico-racial na interseção com a de gênero.
Por outro lado, é necessário gerar estratégias e fortalecer espaços para sua incidência política, de forma a garantir o exercício de seus direitos e plena cidadania de forma real e substantiva.
É por tudo isso que, no dia 25 de julho, devemos pensar se realmente somos partícipes de uma América Latina justa e equitativa, onde todos e todas temos os mesmos direitos, sem importar a cor da nossa pele ou a nossa origem étnica.
Entretanto, ainda estamos com números negativos se pensarmos no bem-estar de populações que em alguns países paradoxalmente são maioria, e que, mesmo assim, não contam com o mesmo bem-estar das pessoas não negras.
Depois das populações indígenas, são as mulheres negras as que sofrem maior pobreza e indigência: são mais pobres que as mulheres brancas, e que os homens negros.
Mesmo assim, com relação à participação política, não tiveram acesso em igual proporção que o resto da população, aos espaços de poder e de tomada de decisões, estando sub-representadas nos níveis de governo locais, regionais e nacionais.
Isso se deve também a que o sistema de funcionamento interno dos partidos, e a falta de recursos econômicos para formalizar candidaturas eficazes, dificultam a entrada das mulheres negras nos parlamentos da América Latina e do Caribe, em paridade com os homens.
As mulheres negras exigem maiores oportunidades para incidirem na formulação de sua própria agenda, e na criação e implementação de políticas públicas que incorporem a inclusão da dimensão étnico-racial na interseção com a de gênero.
Por outro lado, é necessário gerar estratégias e fortalecer espaços para sua incidência política, de forma a garantir o exercício de seus direitos e plena cidadania de forma real e substantiva.
É por tudo isso que, no dia 25 de julho, devemos pensar se realmente somos partícipes de uma América Latina justa e equitativa, onde todos e todas temos os mesmos direitos, sem importar a cor da nossa pele ou a nossa origem étnica.
1 Em julho de 1992, durante o Primeiro Encontro de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro Caribenhas, realizado em Santo Domingo (República Dominicana), decretou-se o dia 25 de julho como o Dia Internacional das Mulheres Afro Latino Americanas, Caribenhas e da Diáspora.
2 A população negra da América Latina, que representa de 20 a 30 por cento da população total dessa região, experimenta níveis elevados de pobreza e de exclusão social, e continua enfrentando uma severa discriminação que afeta seus direitos nos mais diversos âmbitos (CEPAL).
Tradução Luciana Gaffrée