Com Esther Ortega
“Não trabalhamos a um ritmo normal, sempre estamos contrarrelógio”

Esther Ortega nasceu em Jaén, Andaluzia, mas se mudou para Mallorca atraída pelo boom da indústria turística.
Há uns trinta anos é camareira, mas antes já tinha feito de tudo: “trabalhei no campo, como comerciante, como camareira de refeitórios, e finalmente como camareira de quartos”, diz. Nos últimos oito anos, ela foi delegada sindical pelas Comissões Obreiras em um hotel de quatro estrelas, localizado na Praia de Palma.
-Esther, conte-nos qual é o seu trabalho...
-Limpar escritórios e apartamentos. Isto leva mais trabalho do que os quartos, porque incluem cozinhas. E não limpamos as áreas nobres, vamos diretamente para os andares. São oito horas por dia.
-Quantas funcionárias trabalham como camareiras?
-Trabalhando diariamente somos 19. Em maioria somos fixas descontínuas e as demais são eventuais. E no hotel há uns trezentos e tantos quartos.
-E vocês têm tempo para fazer o trabalho em boas condições?
-Não. O ritmo de trabalho é muito intenso, exagerado. Não trabalhamos a um ritmo normal, sempre estamos contrarrelógio. Como se estivéssemos fazendo sempre horas-extras, mas ganhando apenas o salário de camareira.
Além disso, o volume de trabalho aumenta com as saídas dos hóspedes. Nestes últimos anos, o período de estada do cliente encurtou, é menor agora, e então as saídas são mais frequentes.
Contabilizamos uma média de cinco saídas por dia. E isso aumenta o trabalho físico que devo fazer.
Há pouco tive uma conversa com a chefa do departamento e lhe dizia que assim não podia ser, que algum dia não íamos dar conta de todo o trabalho.
-Só que eles também exigem que tudo fique perfeito...
-Eles têm fixação em que tiremos uma pontuação determinada nos questionários que eles passam aos clientes. Mas, o hotel não está em condições e nem nos dão o tempo necessário para oferecer um bom serviço.
-Outra coisa que eu imagino que deve afetar é ter mudado o tipo de turista que chega a Praia de Palma. Foi promovido um turismo para gente jovem que busca festa e caos, o turismo da embriaguez, como chamam...
-Os grupos de gente jovem que vêm para beber são horrorosos, porque quando você entra em um destes quartos não dá nem para limpar.
Parece que não fazemos praticamente nada, nem se vê o que fazemos, mas trabalhamos muito mais do que nos outros quartos. Porque temos que ficar recolhendo todo o lixo e é muito lixo. Temos que entrar com uma bolsa grande, que fica totalmente cheia.
Depois tem a areia, o quarto todo cheio de areia. A impressão é que a Praia de Palma vai ficar sem areia de tanta que trazem para o quarto.
O volume de trabalho é o dobro do que o de um quarto normal. Até porque podemos topar com qualquer coisa.
-Esse trabalho tem prejudicado a sua saúde?
-Eu estou com tratamento médico. Tomo drogas opiáceas para poder aguentar.
A revisão médica me disse “apta com restrições”. Então me colocaram em um andar supostamente mais leve, mas o ritmo de trabalho é o mesmo que o de minhas companheiras.
O trabalho nos quartos é muito duro, mas também há outras coisas que também afetam a sua saúde. Por exemplo, passar constantemente do frio para o calor.
O cliente deixa o ar condicionado ligado para que o seu quarto fique frio. E você entra transpirando e pega esse frio, depois abre a sacada e pega calor de novo. Passamos do calor ao frio e do frio ao calor uma e outra vez.
-E há alguma reação por parte das trabalhadoras, lutam por melhorar suas condições de trabalho?
-Há muito medo. Mas são as eventuais as que sentem mais medo, porque elas não têm segurança de que serão renovadas. O que é brutal.
As fixas e as fixas descontínuas também sentem medo, pese a estarem mais protegidas. Então, o trabalho sindical é o de ficar martelando, todo o tempo. É tudo muito difícil.
Fotos: Ernest Cañada