23
Setembro
2014
Espanha | HRCT | SINDICATOS | CAMARERAS

“Vivemos sobrecarregadas, com um trabalho enorme nas costas, e o corpo depois dá o troco”

En Palma de Mallorca, Ernest Cañada
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Angelina Alfaro trabalhou toda a sua vida como camareira. Começou aos 17 anos e já conta com 30 anos de profissão. Atualmente, trabalha em um hotel da Praia de Palma, Maiorca. Nasceu em Albacete, em Castilla- La Mancha, mas se mudou ainda jovem para Baleares.

Angelina é uma delegada sindical da União Geral dos Trabalhadores (UGT) no seu centro de trabalho, há oito anos.

Quando lhe pergunto por que ela virou sindicalista, Angelina responde com paixão: “Eu sentia muita raiva por não poder falar abertamente as coisas que aconteciam. Quando nos filiamos ao Sindicato podemos falar sem ter medo de nada. E que conste que são coisas justas, nunca pedimos nada que não seja justo. E eles sabem disso”.

-Você trabalha sob muita pressão?
-Pressão é pouco. A jornada é de oito horas e temos que fazer 24 quartos, onde o tempo está todo medido: 30 minutos por saída (por quarto que foi desocupado) e 10 minutos por quarto.

Mas, se um dia você tiver que fazer mais de quatro saídas, a teoria da empresa já não bate, o cálculo não fecha, por melhor que seja a sua matemática.

Além disso, não contabilizam o tempo que perdemos para ir de um edifício ao outro: carregar o carrinho, esperar o elevador, passar para o outro edifício. Nisso, já gastamos 10 a 15 minutos.

E como a chave não funciona, temos que ir até o outro edifício. Então, são coisas muito bem estudadas dentro de um escritório, mas que, na prática, não funcionam. Eles sabem disso.

Esta situação já foi denunciada por nós em muitas reuniões, e pedimos um pouco de humanidade, que compreendam que não podemos continuar com essa carga de trabalho, porque no dia seguinte estamos mortas, não podemos com o nosso corpo.  

Quando o corpo dá o troco
Só aguentamos na base de medicamentos

-Obviamente, isto tem repercussões na sua saúde...
-Eu levo uma semana tomando injeções. De manhã, tomo ibuprofeno e de noite relaxantes musculares.

Vivemos sobrecarregadas, com um trabalho enorme nas costas. Todo o dia esticando camas, arrastando sacolas... e o corpo depois dá o troco.

Um dia você acorda destruída, e não pode nem se abaixar, então você procura um médico, leva injeções ou toma remédios. E, no dia seguinte, já volta a trabalhar.

E no plano de saúde da empresa ainda dizem muito sorridentes: “isso não é culpa do trabalho, é que você está ficando velha”. Segundo eles, as dores no pescoço, nas costas, lombares, e as tendinites aparecem porque não fazemos nada...

-E qual é o seu salário?
-
Recebemos o estabelecido no convênio da hotelaria. Um pouco mais de 1 mil euros, dependendo dos impostos que forem descontados.

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Fotos: Ernest Cañada

Tradução: Luciana Gaffrée