Isabel Moreno: “É trabalho demais, e pressão demais. Terminamos destruídas”
As camareiras contam como são as condições de trabalho nos hotéis de Mallorca

-Você poderia nos contar como é a sua jornada de trabalho?
-Entramos às 7h da manhã e começamos pelas áreas nobres – restaurante, bar, salão... ou seja, todos aqueles ambientes utilizados pelo cliente – e depois subimos para os quartos.
Então, temos apenas 4 ou 5 horas para fazer 20 quartos, com todos os detalhezinhos de um quarto 4 estrelas.
Normalmente, às duas da tarde tudo tem que estar pronto. Aí, descemos, comemos, e depois das duas ou três e meia, temos que contar a roupa, limpar os corredores... sempre há alguma coisa para fazer.
É uma pressão enorme. E a cada dia temos 4 ou 5 saídas (hóspedes que deixam os quartos), e aí não há quem suporte. É muita pressão.
-Como está composta a planilha das camareiras no seu hotel?
-Há uma camareira fixa, 13 fixas descontínuas, e 10 eventuais, que têm que fazer de tudo.
No hotel há uns 300 quartos. São sete andares com 44 quartos por andar.
-Por que você diz que o trabalho é tão pesado?
-Os colchões não pesam muito e as camas têm rodinhas. Mas, os móveis você não faz ideia do peso que têm! Meu Deus do céu!
Além disso, nos quartos não há espaço para trabalhar, e é fácil que você esbarre neles e se machuque. Ou nos banheiros, com o box e muitos detalhezinhos.
Mas, o grande problema é o ritmo de trabalho, que é um desastre: É trabalho demais, e pressão demais. Terminamos destruídas, sinceramente.
-E não há pausas para o descanso?
-A meia hora de pausa para a refeição é recuperável, porque isso foi assinado com o empresário há tempo, quando Judas perdeu as botas.
Isso quer dizer que esta meia hora é nossa, não nos é dada pela empresa.
Mas a maioria não desce para comer, porque não conseguem terminar tudo no tempo permitido. Mas, eu sim desço, veja só você se irei eu dar minha hora de descanso para a empresa. Faça-me o favor!
-O impacto em sua saúde é grave?
-Os principais problemas de saúde são nas nossas pernas, nos joelhos, cervicais e metacarpianos.
A que não está operada, em pouco tempo já passará pela sala de operações...
-E o que acontece com as pessoas de mais idade? Depois de tantos anos nessas condições, os problemas de saúde devem se agravar…
-A empresa não tem a mínima consideração com as pessoas de mais idade, que trabalham há 30 ou 35 anos no hotel, e que já foram operadas dos joelhos, dos pulsos ou sofrem problemas cervicais.
Não há a menor consideração por elas. O trabalho é o mesmo. São tão ou mais pressionadas. Dizem a elas que se não podem fazer o trabalho que peçam demissão.
Mas, as jovens que entram também não conseguem fazer o trabalho. Neste ano entraram várias garotas, começavam de manhã, mas depois passavam o dia chorando, dizendo que não conseguiam fazer tudo. O empresário nos pressiona de forma insuportável.
-É por isso que todas as camareiras levam sempre tantos medicamentos?
-Todas levamos medicamentos. Eu tenho o espidifren para a dor e outros comprimidos para a ansiedade. De manhã, eu me levanto e já tomo os meus comprimidos.
É que o corpo dói. Chega um momento em que o movimento constante faz doer tudo: braços, ombros... Então, tomamos os comprimidos e assim é como aguentamos.
-E se você disser que dessa forma não é possível trabalhar?
-Os empresários nos ameaçam e dizem que tomarão as medidas que forem necessárias. E claro, as pessoas têm medo. Não é nem preciso dizer que mandam você embora.
Eu já levo uns 15 anos como delegada sindical. Às vezes chega um momento em que me desanimo, porque é uma pressão constante que é difícil de aguentar.
Inclusive com as próprias companheiras: elas vêm e se queixam, aí depois você vai e as defende, mas então elas é que deixam você sozinha e a empresa cai em cima de você.
E com isso o seu moral fica baixo, mas tá, depois vamos nos recuperando.
Fotos: Ernest Cañada