Com Pilar Rato
“Priorizam a rapidez e o númeroantes da qualidade e do profissionalismo”
Um grave erro das redes de hotéis
Foto: Gerardo Iglesias
-Quais são os principais problemas que as camareiras enfrentam?
-Um dos maiores problemas é o excesso de carga de trabalho, independentemente do tipo de hotel ou de sua região geográfica.
É um trabalho repetitivo, monótono, contínuo e pesado. É duríssimo, porque é agachar, levantar, recolher, e isso ao longo de uma vida traz muitas dores e doenças.
De fato, é muito difícil que uma camareira de hotel termine a sua vida de trabalho da mesma forma que outra trabalhadora não submetida a estas condições.
Além disso, da mesma forma como o uso de novos equipamentos tecnológicos em outros setores avançou de forma muito importante, neste setor, na maioria dos casos, estamos iguais há 20 ou 30 anos. Há muito pouca inovação pensada para facilitar o trabalho das camareiras.
Por outro lado, poderia existir um trabalho sindical muito mais importante buscando fazer deste trabalho uma atividade mais agradável de ser feita, e que estas mulheres ganhem um ambiente de trabalho mais favorável.
- Por exemplo?
-Para citar um caso, os hotéis melhoraram muito ao colocar à disposição dos seus clientes camas maiores e mais confortáveis, mas o investimento em camas de elevação automática, que melhorariam enormemente as condições de trabalho (e a própria produtividade), é nulo.
-E certamente é um setor onde praticamente todas são mulheres.
-Eu sempre digo que se os hotéis tivessem mais homens trabalhando como camareiros, certamente muitos destes problemas já teriam sido resolvidos.
Por ser um setor altamente feminizado, foi considerado um trabalho inferior, quando a alma mater de um hotel é a camareira. Você chega a um hotel e a primeira coisa que repara é como está o seu quarto.
-Segundo me contaram muitas camareiras, esta sobrecarga de trabalho se converte também em um motivo de frustração e de mal-estar.
-As camareiras são profissionais e querem fazer o seu trabalho da melhor forma. Muitas vezes o que reclamam é de não valorizarem o que elas fazem.
-E isto também repercute na própria qualidade do serviço.
-A meu ver, as redes de hotéis estão cometendo um erro, por primarem pela rapidez e número, antes da qualidade e do profissionalismo. O que a patronal quer é reduzir custos e assim não é possível oferecer um serviço de qualidade. Logo, logo, pagarão por isso.
-Em que sentido?
-O turismo é um setor muito competitivo, e na Espanha somos receptores. Não somos os que possuem as grandes distribuidoras do turismo, não! Nós possuímos as redes de hotéis, e por isso, devemos continuar valorizando a importância da qualidade do serviço.
Quando um turista paga um hotel de 4 ou 5 estrelas, quer qualidade, e isso não se dá se não houver trabalhadores e trabalhadoras profissionais. Competimos com países que oferecem a mesma coisa que nós em qualidade de serviços, e é onde devemos competir, não nos preços.
E qualidade só pode dar quem está a vida toda nisto, que sabe atender um cliente, que sabe deixar um quarto em condições de receber um cliente..
-Além desta situação de degradação das condições de trabalho, quais são os principais desafios para as organizações sindicais do setor?
-Um dos problemas na hotelaria, e que pouco se fala, é a crescente dissociação entre a propriedade e a gestão.
Cada vez há menos hotéis como propriedades, e mais gestões e franquias. Os hotéis como um negócio imobiliário e financeiro.
Além disso, avançamos para os hotéis virtuais, onde a marca, que antes identificava uma empresa, acabará sendo uma casca vazia, onde conviverão diferentes empresas que realizarão os serviços de quarto, dos restaurantes, de entretenimento...
As terceirizações de diferentes serviços, e especialmente das camareiras, são um grave desafio que vamos ter que enfrentar no futuro, melhor dizendo, que já estamos enfrentando hoje.
Desta forma, os empresários pretendem quebrar com a unidade do convênio coletivo aplicável em cada caso e fragmentar a própria representação dos trabalhadores. Isto levará a uma maior fraqueza na hora de defender ou de avançar em melhores condições de trabalho.
-Como fazer frente a este fenômeno se pensarmos numa perspectiva sindical?
-A terceirização é uma questão relativamente recente e que está se intensificando há dois ou três anos.
É uma questão complicada, porque ou os terceirizados se unem por meio das negociações coletivas, contando com uma mobilização dos trabalhadores e das trabalhadoras, como se conseguiu em Baleares, ou acabaremos vendo uma progressiva degradação das condições de trabalho.
Mas não há uma receita única, porque as situações são diferentes conforme as regiões turísticas, mas o objetivo das CCOO é preservar ao máximo as condições de trabalho e de emprego nos hotéis.
Devemos estar conscientes, finalmente, de que em matéria de terceirizações vamos nos posicionando contra as iniciativas pontuais colocadas previamente pelos empresários, que estão, portanto, um passo na nossa frente. Salvo alterações na situação da crise econômica, estamos diante de respostas sindicais defensivas.
-Por outro lado, há uma impressão de que a terceirização nos hotéis avança mais em algumas regiões do que em outras. Mais nas cidades pequenas e médias e no interior, do que nos grandes núcleos turísticos. Qual é o motivo?
-O que acontece é que a força que temos, como sindicatos, em certos lugares é muito maior do que em outros. Onde pode haver manifestações? Em Málaga, em Baleares, na Catalunha, nas Canárias. Por quê? Porque o fator principal na economia destas regiões é o setor turístico.
A patronal não é boba e toma muito cuidado com estas coisas, ali onde sabe que a resposta vai ser mais forte.
No convênio da hotelaria de Baleares, a terceirização foi discutida e finalmente tiveram que retirar o assunto, diante de uma ameaça de greve porque sabem que há capacidade de resposta. Começarão por aquelas regiões onde acharem que há maior debilidade sindical, e nós temos que estar ali, tentando dar respostas em cada um desses momentos.
-Como você valoriza a campanha internacional pela dignificação das condições de trabalho das camareiras de hotel promovida pela UITA, à qual a Federação de Serviços da CCOO está filiada?
-É uma iniciativa acertada, que está centrada em uma coletividade tradicionalmente menos favorecida dentro dos hotéis, e que, por ser também muito feminizada, incide em uma das políticas transversais que nenhum Sindicato pode esquecer, nem mesmo não priorizar, que é a igualdade de gênero.
As CCOO têm isso muito claro, e por isso no Manifesto que publicamos para ajudar na campanha, não apenas nos unimos aos objetivos da UITA, mas também divulgamos as nossas iniciativas como parte de um trabalho que estamos fazendo há muitos anos e que continuaremos aplicando no futuro.
Para nós, não é uma mera campanha, mas parte de nossa atividade sindical cotidiana.
Traduçao Luciana Gaffrée
Publicado por Darío Falero